sábado, 2 de abril de 2011

ABRIL - MÊS DE TIRADENTES...

Iniciando o mês de abril, mês do grande patrono da nossa querida Academia, colocamos aqui um magnífico texto da nossa querida amiga Odette Mutto *
TIRADENTES

Duzentos anos depois, Tiradentes continua atual porque os sonhos de liberdade pelos quais lutou e deu a vida foram atingidos só parcialmente.

Dentista por decisão do padrinho que o criou e praticava a Odontologia, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, exerceu pouca a profissão, enveredando pelos caminhos da mineração, vendas, carreira militar como alferes da Cavalaria, e aqui, de repente, ei-lo frente a frente a um desejo que o levaria igual a uma avalanche a consequências extremas onde sua decisão única era tirar a pátria do jugo português.

A Inconfidência Mineira, mal planejada e pior executada, apesar do malogro final plantou uma semente poderosa, capaz de em 30 anos cortarem os grilhões que nos prendiam a Portugal.

A Tiradentes deve-se esta conquista, a seu sangue heróico derramado sem vacilação nem recuos, defendendo uma causa verdadeira.

A morte trágica ordenada pelo poder luso a um idealista visionário transformando-o em mártir sacudiu a consciência nacional.

A selvageria desencadeada contra Tiradentes antes, durante e depois do enforcamento uniu, sob a mesma bandeira, brasileiros de todas as camadas sociais, colocando quase a nação inteira, em alerta contra as ordens vindas do reino, questionando-as quanto ao aspecto legal e moral.

Um homem morrendo no patíbulo, esquartejado e colocados os despojos nas trilhas das Minas Gerais para servir de exemplo a quem ousasse ter pensamentos semelhantes, teve efeito contrário ao esperado pelos mandantes do crime. A fala de Tiradentes silenciada violentamente, ficou ecoando nos mais longínquos, rincões da pátria subjugada. Quinto de ouro derrama ameaças e prisões, perseguições e sevícias lusitanas, já não atemorizam tanto os da colônia. Tiradentes e seu sacrifício empurram os dominados para diante, indiferentes ao perigo.

Não dá para segurar mais este povo sufocado 300 anos, com direitos civis cerceados, mantendo a opulência na corte d´além-mar, em nome de uma ordem caótica e parcial, à sombra do alferes brotam idéias, impossíveis de exterminar mais. A injustiça e o arbítrio entram em contagem regressiva.

A rainha D. Maria I, que condenou Tiradentes, assinou também no mesmo decreto a independência política do Brasil. 7 de setembro de 1822 reflete apenas o fim de um ato bárbaro e pouco inteligente, cometido contra um homem simples, cujo delito maior foi enxergar uma situação de fato, errada, e querer, a qualquer preço, transformá-la em situação de direito.

Um relógio de bolso marca Eliot e uma sacola com instrumental odontológico foi a fortuna material deixada por Tiradentes e, sua obsessão pela justiça, esta sim, é a herança verdadeira que nos cabe.

Obrigada, Tiradentes. Teus irmãos de profissão junto com toda a terra brasileira te agradecem e se curvam respeitosos diante de tua grandeza imaculada.

* Titular da SBDE, e da União Brasileira de Escritores - Várias vezes premiada, é frequentemente convidada para compor a Comissão Julgadora de Concursos de Literatura. Com muita honra para nós!!!

o0o

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